Ensaios de Insensatez

“Para o bem da sua sanidade mental faça-se de surda, cega, muda e louca.”

E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.
(Friedrich Nietzsche)


O amor está além das próprias expectativas…

Bem,

Reza a lenda que ser sensato é se portar bem, é cumprir as regras da sociedade e não dar ‘piti’, não é mesmo? Ui!
Então, a insensatez por sua vez, é, portanto, o oposto disso. Ela é o comportamento incorreto, não aceito, subversivo, incoerente e irreverente, correto?

Assim é vida e as suas nuances, a humanidade e as suas escolhas, a sociedade e as suas visões de mundo. Eu acho tudo isso, muito interessante e gosto de observar a convivência dos multiversos, gosto desta dança quente entre a singularidade e a pluralidade, sabe?

Os multiversos ficam todos juntos pacientemente ou quase isso, sentados numa sala de espera e ao mesmo tempo estão todos separados e cada um está imerso no seu próprio mundo e partilhando a mesma realidade, o mesmo espaço e o mesmo tempo dos relógios através de uma visão bilateral. Ah, isso é muito interessante. É espetacular, o interagir dos Multiversos.

Nesta mesma sala de espera. Imersa num outro mundo vi numa rede social uma publicação com os seguintes dizeres:

“Para o bem da sua sanidade mental faça-se de surda, cega, muda e louca.”
Fiquei a pensar sobre ser louca, se fazer de surda, cega e muda, mesmo ali naquele momento e nesta, eu que sou conhecida por ser acelerada, perdi-me no tempo, fiquei imersa no meu mundo e quase perco a consulta também. Ensaios de sensatez (risos).

Escrevi mentalmente este artigo que hoje partilho convosco. O universo da escrita sempre foi a minha rota de fuga favorita, sinto-me segura quando escrevo e consigo abster-me do medo de gaguejar ou de me inervar por não conseguir falar, quando eu escrevo, eu me escondo e me exponho na mesma toada do meu pensamento e ainda que eu tropece nas palavras o tombo e os holofotes são menos doloridos, aqui.
Ser acusada de insensatez ou de falta de polidez, de ser sem educação sempre me doeu muito.

Portanto são para mim formas cruéis de coagir aqueles que não se deixam dobrar, os tais subversivos.
Rebobine a fita e veja quantas vezes em nome da sensatez, você foi insensato consigo mesmo? Inúmeras foram as vezes você deixou de cantar, de dançar e até de sorrir porque era inadequado, não é mesmo?
Porque será que somos tão levianos com nossos valores?

Você segue a regra por que entendeu o que ele diz ou por que toda gente já a segue? Seguir a regra sem entender é um ato de insensatez ou é uma ação sensata?

Então, adjetivar, nomear, chamar, classificar, ou seja, dar a alguém a alcunha de insensato não seria uma boa forma de coagir e constranger? Você já foi constrangido, coagido e forçado a ser aquilo que, não é só para agradar alguém? Isto é sensato ou insensato?

Fiodor Dostoievski acreditava que,

“O sarcasmo é o último refúgio das pessoas moderadas quando a intimidade de sua alma foi invadida”.
E Kant dizia que,

“O errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo. O certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo”.

Atenção! Não pense que são antagónicos, não tenha tanta pressa em responder, vá devagarinho, respira um pouco! Oiça para entender e não para responder. Isto é só uma provocação filosófica, não é uma briga, não existe disputas.

Portanto, relaxe!

E, então, sensato ou insensato? Eis a questão e talvez não exista questão alguma, isso pode ser só mais um sinal da minha maturidade tardia ou menos ainda, esta dificuldade pode ser da minha mente barulhenta e inquieta e talvez eu posso estar a ser insensata.

Não sei, não! Já dizia o grande Raul Seixas,

“Se o mel é mesmo doce, eu me nego a afirmar, mas que ele parece ser doce, isso eu digo com certeza”.

Obedecemos inconscientemente essas “modinhas” e sem perceber vivemos muito mais a vida dos outros do que a nossa e as vezes será preciso mais de uma vida para aprendermos a reverenciar o Divino que nos habita.

Tire um tempo do seu dia e observe o movimento a sua volta, você notará essas interferências energéticas. As pessoas querem ser avós só porque não tiveram um avô ao pé delas quando eram crianças.

Os casais querem ser pais porque precisam atender o desejo daqueles que já querem ser avós.
O amor está institucionalizado e preso numa folha A4, a crueldade anda livremente pela alta sociedade disfarçada de bons modos.

O conhecimento foi desprezado e tudo acontece de forma velada, tudo isso em nome da sensatez.
Insensata, eu? Talvez! A certeza que carrego no meu peito é que ser irreverente com o Divino que me habita, não, não mais! Já tem um tempo que sensatez para mim é ter a coragem de ser eu mesmo e viver sem medo. Não se pode matar aquilo que está morto.

Portanto, sensato para mim é amar a si, é relacionar-se consigo mesmo de uma forma intensa, alucinante e apaixonante. Insensato é precisar de alguém e para isso ter que fingir amar. Insensato é viver de mentiras, senão a sociedade pira. Isso é insensatez.

Não permita que os rótulos impostos pela “right Society”, pelo ser amado, pelos moralistas, religiosos e familiares guiem a sua vida, não permita que a sua essência apague, não se deixe moldar por ninguém, teime, ouse e seja integro e inteiro.

Somente você sabe quem você é, ninguém pode dizer que sabe de si, analisando apenas as suas ondas superficiais. Recorde-se de que você é oceano e ninguém pode ver as suas profundezas.
Deixe ecoar como mantra no seu coração a certeza de que toda expressão é apenas um arremedo do pensamento e o pensamento por sua vez não é o que você realmente é.

Retire os véus de Maya (ilusão) como afirma sabiamente a filosofia Yogi. Segundo os Yogacharyas, para contemplarmos o paraíso que já possuímos, nós deveríamos retirar os véus, renovar os nossos filtros, aferir as nossas convicções e perceber se estamos realmente sendo insensatos ou demasiado sensatos com os nossos valores.

Por ora, deixemos o Sol brilhar mesmo que seja Inverno…

Gratidão,
Dan Dronacharya.

P.S: Este texto também esta na revista meer : https://www.meer.com/pt/76086-ensaios-de-insensatez

Sobre Dan

Estudante da consciência, Escritora e Professora de Yoga

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