A Paradoxal Arte de Viver: Reflexões sobre Morte e Santidade com Huxley

Para mim, morrer não é um problema.”
Toda pessoa frustrada, de alguma forma, não vive; é apenas um corpo sem alma, obedecendo mecanicamente ao ato de respirar. A morte, que nos santifica, também nos tranquiliza; ela remove as expectativas e nos faz perceber que, paradoxalmente, é morrendo que realmente vivemos.
Vivemos mais e melhor quando nos abstemos de opinar, comandar e esperar. Por isso, morrer ainda parece ser o caminho para aqueles que desejam, de fato, sentir a vida, seja como santo, religioso, familiar, cidadão, político ou amante.
O que importa não é o que é valorizado pelo mundo, mas sim que a vida só se realiza plenamente se morrermos para nossos apegos e ilusões.
Já morri tantas vezes, mas às vezes ainda me pego esperando.
Bem;
O trecho de Huxley nos confronta com a complexidade da moralidade e da virtude, oferecendo uma lente crítica para examinar nossas próprias atitudes e expectativas.

“Que os mortificados são, sob alguns aspectos, frequentemente muito piores que os não
mortificados, é um lugar comum da história, a novela e a psicologia descritiva. Assim, o puritano
pode praticar todas as virtudes cardeais prudência, fortaleza, moderação e castidade sem
deixar de ser completamente mau, pois, em muitos casos, estas virtudes acompanham-se, e de
fato estão casualmente relacionadas, com os pecados de soberba, inveja, ira crônica e uma falta
de caridade levada às vezes ao nível da crueldade ativa. Confundindo os meios com os fins, o
puritano se acreditou santo porque é estoicamente austero. Mas a austeridade estoica é
meramente a exaltação do lado mais reputado do eu a custas do que o é menos. A santidade,
pelo contrário, é a total negação do eu separado, em seus aspectos reputados não menos que
vergonhosos, e o abandono à vontade de Deus. Até onde há apego ao “eu”. “minha”, “meu”, não
há enlace com a Base divina nem, portanto, conhecimento unitivo dela. A mortificação deve levar-se
ao extremo do desprendimento ou (na frase de São Francisco de Sales) “Santa indiferença”;
em outro caso, só transfere a obstinação de um lugar a outro, não meramente sem diminuir o
volume total de obstinação, mas, ao contrário, às vezes, com um verdadeiro aumento. Como
costuma ocorrer, a corrupção do melhor é a pior. A diferença entre o estoico mortificado mas
ainda arrogante e egocêntrico, e o não mortificado hedonista, consiste nisto: o último, brando e
negligente, no fundo, envergonhado de si mesmo carece de energia e atividade para fazer muito
dano exceto a seu próprio corpo, mente e espírito; o primeiro, por ter todas as virtudes
secundárias e olhar com desdém aos que não são como ele, está moralmente equipado para
desejar e poder fazer mal em maior escala e com a consciência perfeitamente tranquila. Tudo isto
é óbvio; entretanto, no jargão religioso corrente, a palavra “imoral” se reserva quase
exclusivamente aos que sentem prazer carnal. Mesquinhos e ambiciosos, os malvados
respeitáveis e os que cobrem sua avidez de poder e posição com o tipo adequado de hipocrisia
idealista, não somente ficam imunes de censura, mas até são apresentados como modelos de
virtude e santidade. Os representantes das igrejas organizadas começam pondo auréolas sobre à
cabeça das pessoas que mais contribuíram para a explosão de guerras e revoluções; logo,
insignificantemente queixosos, admiram-se de que o mundo se encontre em tão tremenda confusão.”
Trecho do livro: Filosofia Perene – Aldous Huxley.
Gratidão eu sou por ler e sentir as palavras deste grande pensador.
Dan Dronacharya.

Sobre Dan

Estudante da consciência, Escritora e Professora de Yoga

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