Eu lancei uma garrafa ao mar quando por cá andei numa outra vida não muito distante, por favor se fores tu a alma que busco, faça um sinal de fumaça e responda o enigma ou perca a alma.
O nosso encontro:
Antes mesmo de dar o próximo passo e prosseguir para o meu espaço, peço, entretanto, por gentileza que tire os seus sapatos, afrouxe o laço, das tuas certezas e entre com leveza. Por favor, não toque nas ervas, não assuste os bichos e não pise nas formigas, pode ser que piquem e quando sair deixe a sua contribuição no pé do Carvalho velho e não escute o senhor Nélio.
Seja bem-vindo a minha casa.
Esses dizeres estavam na entrada da propriedade da curandeira.
Achei aquilo tudo muito engraçado, fiquei meio receoso, pensei que poderia ser perigoso, mas fui devagarinho adentrando aquele espaço que apagava os rastros e cheirava a mato. Tinha muitas flores e um tanto de aromas misturados, eu segui achando tudo muito engraçado e magico, não era escuro e nem claro e tinha o seu regalo, o lugar inebriava a mente e entorpecia os sentidos.
Os raios de sol, juntamente com uma relva perfumada adentravam por alguns buracos nos telhados findava a penumbra que ali estava, dando luz a toca ou casebre charmoso dela.
Fui entrando naquele lugar sem parar como diziam as setas dependuradas nos arbustos, lá ao fundo estava ela, a curandeira, ela riscava incessantemente estrelas no chão e ao firmar o olhar, pareciam setas para o coração brilhar.
Com uma voz doce que nem mel de laranjeira e suave como chá de maça, ela disse-me: Escutei o seu suspirar, o seu movimentar e o seu pisar durante todo trajeto, sei que traz consigo um objeto e sem mover o corpo, olhou-me por trás daqueles lindos cabelos organizadamente despenteados, pousou o graveto que tinha em suas mãos em cima de uma tabuinha e convidou-me a sentar num tronco de árvore que como banco ela tinha.
Eu estava encantado, totalmente entorpecido com a presença dela e minha cabeça não parava de fazer interpelações. Perguntei logo de uma vez: Curandeira, diga-me se somos capazes de amar? De repente com um charmoso sorriso, ela disse-me para aquietar as emoções e a mente. Ofereceu-me um chá numa concha feita de casca de coco, que me deixou-me meio oco ou louco e junto com ele a seguinte orientação. Acalma o seu ser! Eu sei o que você veio buscar, o que deve entregar e merece levar, portanto, de agora em diante não compensa relutar, é só escutar.
Dentro de alguns momentos, meu jovem, você vai ficar meio sonolento e lento, então compreenderá o porque ainda não sabemos amar.
Não mais se esquecerá e por mais que eu lamente, muito provavelmente a desilusão a si chegará, ela lanterna no seu caminho será, ela irá clarear o seu pensar, iluminará o seu ser e a sua alma meu jovem, de certeza, vai amar.
Por hora, adormeça, jovem rapaz! Enquanto eu partilho uma história consigo, adormeça meu jovem! Há muito, muito tempo atrás, bem antes do tempo dos zagais, no tempo em que o mundo era outro. Um pouco menos louco, eu por cá andei e foi nesta altura que eu me enganei, alucinei-me, pensei que amei!
Eu sou uma curandeira d’almas, porque quando o amor chegou eu tola fui e não o percebi, eu não tive calma, errei o enigma e perdi a minha alma.
Naquele tempo eu apressei o passo, fui tola e prendi o meu pássaro, perdi-me totalmente no espaço. Não demorou e o rancor chegou, brotou e fez raiz. O amor o vento levou e por vários anos só a dor ficou e agora até essa já passou. Hoje sou detentora da minha alma e sei o valor que ela tem e por isso não discuto com ninguém.
Eu não sei nada, mais do que outro alguém e nem quero saber se ele sabe de outrem, eu só sei de mim e só falo das experiências que tenho, não sei nem rezar, sei! Eu só sei curar almas como a minha, por isso não se iluda e nem coloque em mim atributos que me mudam.
Curandeira d’alma sou, meu caro! E, não porque eu saiba algo além de si, mas porque falhei ao amar a mim. Eu amei demasiadamente alguém, dei-me, desrespeitei-me, não pensei em mim, não me perdoei, falhei, não reparei, me iludi e a alma perdi.
Desde então, ajudar quem ainda acredita no amor foi o que prometi. Eu achava que amar era agradar, que teria que se anular, deveria ao outro pertencer, ceder ou do contrário não amava e apenas aguentava. Sem perceber, eu me aprisionava, era prisioneira e custei a entender que com esse comportamento, eu também aprisionava.
Para mim não havia a menor possibilidade de o amor ser algo diferente daquilo que me ensinaram, eu não aprendi a sentir, disseram-me que eu tinha um papel a cumprir. Questionar não era permitido embora não tivesse nada escrito. Eu não compreendia que amar era soltar, liberar, entender que a felicidade do outro pode estar em outro lugar e por isso não precisa enciumar. Eu jurava que tinha que prender para manter, fazer o outro entender as vantagens de ter você. Nada a ver!
Eu não entendia que eu deveria me encher de amor e virar flor, eu era romântica e tinha a certeza de que amar era você encontrar uma pessoa que possa cuidar de ti pudesse cuidar e tudo suportar até a vida findar, sem nem imaginar que são as obrigações que trazem as confusões.
Eu não sabia, se era certo, errado, dolorido, justo, necessário ou egoísta o fato de unir-se a alguém para que essa pessoa cuide de si quando os filhos partirem, os sentidos falharem e a velhice de borla bater a porta.
Adormeça meu belo rapaz e perceba onde deixou a sua alma, mas vá com calma! Não me agarre e no caminho não ouça ninguém, isso não lhe convém. Vá e mergulhe mais fundo, escute apenas a música que soa no seu interior, vá em busca do seu eu, entenda e aceite o seu ser. Solte o laço, abandone o embraço e ganhe o espaço. Perceba que amor é livre, como asas a voar, não deve ser forçado, nem aprisionado no ar. É um sentimento que se nutre de sinceridade, respeito, cumplicidade e liberdade. Amar é cuidar, é ser presente, sem sufocar, sem fazer da vida uma corrente.
É compartilhar sorrisos, abraços e emoções, valorizando as individualidades e paixões. Meu jovem, o amor é uma lição, um aprendizado constante, uma evolução. Amar é conhecer a si mesmo, sem medo, aceitando as imperfeições, seguindo em segredo. É olhar para o outro com ternura e respeito, não tentando moldá-lo, mas acolhendo-o direito.
Ninguém pode ensinar o amor verdadeiro, pois cada coração possui seu próprio roteiro. Portanto, meu jovem, não tema amar, mas aprenda a amar de forma a se libertar. Seja autêntico, inteiro e verdadeiro, cultivando o amor dentro de si o tempo inteiro.
E assim, despertei do meu sono profundo, com o coração leve e o entendimento fecundo. A curandeira d’alma, com sua sabedoria, me mostrou que amar é uma eterna poesia. Saí daquele lugar com o coração cheio e com a alma leve trago comigo as palavras cheias de brilho da curandeira.
Agora, sigo a jornada com mais clareza, em busca do amor que me traz pureza. E agradecido a ela pela sua orientação, por abrir os meus olhos e o meu coração. Amar será sempre uma busca constante, e eu sigo adiante e confiante.
Carrega no link e leia o nosso artigo na @revistameer, divirta-se e se encante com a Curandeira’Almas.
https://www.meer.com/pt/74447-a-curandeira-dalmas
Depois, conta-me coisas 🙂
Gratidão,
Dan Dronacharya
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