A mente humana é uma caixinha de surpresas
16 NOVEMBRO 2023,
Mais um artigo meu na revista Meer
https://www.meer.com/pt/74942-a-confusao-de-conceitos-e-seus-efeitos
O mal que causamos aos outros quando nos negamos a fazer as coisas por falta de entendimento é infinitamente menor do que o mal que causamos quando não discernimos e simplesmente nos deixamos ser influenciados pelos pensamentos perniciosos e desonrosos dos outros.’
Temos o costume de distorcer as coisas e agir covardemente para nos sentirmos certos na situação, agimos assim para evitar críticas e constrangimentos. Entretanto, lá no fundo da nossa alma, sabemos que esse autoafirmar é uma tolice da mente humana. Sabemos que quando precisamos discutir e destruir alguém é porque estamos destruídos interiormente, ah, sabemos e como sabemos das nossas fraquezas e falta de razão.
Ao observarmos o desenrolar das coisas, perceberemos que, ano após ano, a melhor arma que possuímos para proteção do ser humano e do que nos é sagrado, é sem sombra de dúvidas a desconfiança. Embora a explicação seja fácil, a execução disso não é assim tão simples. A consciência é como os nossos músculos, tudo o que somos, precisamos buscar essa melhora no pensamento. Entretanto, não somos tão bons assim em manter bons hábitos. Somos um tanto relapsos, ingênuos e imediatistas demais para entender as coisas de imediato.
É assim que alimentamos a maldade dos outros e giramos no ciclo de sofrimento chamado samsara. Inconscientemente, nós fazemos isso por preguiça, pressa ou vaidade. Além disso, já sabemos que toda pessoa mal- intencionada, ou melhor dizendo, todo vampiro energético, vai pedir a sua confiança sem oferecer nenhuma dignidade em troca. Muito pelo contrário, eles farão você se sentir asqueroso, ridículo e pequeno por ser desconfiado e querer saber mais sobre ele. Ele oferecerá facilidades e tentará de todas as formas convencê-lo de que você não precisa ser tão desconfiado. Insistirá para que você confie sem hesitar.
Os vampiros energéticos conhecem e se alimentam da necessidade da mente imediatista. Sabem que ela sempre age com pressa, é carente e precisa ser aceita. Sem presença a gente acaba por acatar esse estilo de vida que temos atualmente. Passamos a acompanhar o mundo e a ouvir cada vez menos a voz sagrada do interior.
As crenças limitantes que possuímos nos incapacitam e obscurecem nossa visão, afastam-nos de nós mesmos e nos colocam nas mãos de pessoas indignas de nossa confiança. Permanecemos cegos e ansiosos para sermos aceitos como ‘normais’, seguindo a corrente sem muitos questionamentos. Parece quase um transe, mas vivemos nessa contradição, onde pensar positivo é considerado coisa de hippie maluco, onde a desilusão é vista como negativa e o positivo é viver iludido, estressado e sempre correndo atrás de um lugar nesta sociedade. Muitos de nós vivem completamente imersos nessa fantasia, sem nem cogitar que a desilusão causa menos dano do que a ilusão.
Desperte desse sonho que não é seu, olhe ao redor, nas ruas onde mora ou nos lugares que frequenta, escute as pessoas, ouça sem julgamentos e perceba que quase ninguém considera ser desiludido algo bom e positivo. Pergunte o que acham de uma pessoa desiludida, aposto que já ouviu inúmeras vezes aquele ‘Xi, uma pessoa desiludida, é aquela que não acredita em nada, nem sonha, é um coitado.’ Não cogitam que sonhar sem planejar, sem chances de execução, é coisa de alucinado, de gente lunática.
Portanto, a humanidade continua a caminhar sem saber para onde, como um cachorro que corre ao redor do próprio rabo, seguindo uma fila enorme como gado no matadouro. ‘A desilusão é popularmente conhecida como algo negativo, entretanto, é a ilusão que nos faz mal.’ Muitos conceitos não são popularizados com seu verdadeiro significado, são transmitidos através de provérbios frequentemente invertidos. É preciso ter calma, escutar, acolher e entender para depois executar e compartilhar. O pensamento humano muda constantemente, e aquilo que até ontem era uma verdade inquestionável, hoje pode ser apenas uma lenda, daquelas que qualificamos como ridículas ou infantis.
O que de fato não mudou foi a capacidade da mente humana de criar. A mente humana é, na verdade, uma caixinha de surpresas, e ampliar essa caixinha pode não ser algo tão simples de explicar, não é mesmo? No entanto, onde há amor, há paciência. Precisamos compreender as coisas e alcançar o tão desejado discernimento. Discernir é algo sublime e vai além de um mero entendimento superficial ou uma mera repetição.
O verdadeiro saber alimenta a alma e é totalmente desprovido de arrogância e autoritarismo, sempre curioso e aberto para adquirir mais conhecimento. O discernir traz alegria à alma quando ela se vê capaz de aprender e não apenas repetir. A mente lógica e racional precisa de entendimento e não se irrita com outras formas de pensar, ela está cheia de amor. O entendimento é prazeroso para as mentes pensantes e sonhadoras. Não basta dizer que as coisas são como são, essa resposta é muito simplista para os amantes do conhecimento. Eles são detentores de uma mente criativa, possuem um mundo mágico entre as orelhas. A distorção dos conceitos serve para manipular os pensamentos, portanto, é um veneno letal para as mentes sonhadoras e criativas.
A mente sonhadora é aquela que sofre bullying e muitas vezes é chamada de retardada, porque não se sujeita a fazer algo sem entendimento… Entretanto, é fácil perceber que menos inteligente é aquele que obedece sem entender, apenas repete como um papagaio. O samsara continua girando a maldade, a promiscuidade e muitos hábitos disfarçados de boa educação, bons modos ou brincadeiras. As crenças limitantes que possuímos em nossas mentes podem nos controlar por mais de uma vida. É fácil aferir que ainda repetimos muitas coisas e questionamos muitos padrões sem sequer imaginar por que o fazemos, não é mesmo? Não é difícil encontrar alguém que faz as coisas apenas porque outras pessoas, principalmente familiares, também as fazem.
Experimente questionar a si mesmo, validar seus costumes e princípios. Pergunte a si mesmo por que pensa dessa forma. Por que reage da mesma maneira que sua mãe, seu pai, sua tia ou… Por quê? Questione-se!
Existem alguns conceitos que não foram eleitos por nós e, portanto, não devem ser considerados tão perfeitos assim. A confusão dos conceitos causa danos irreparáveis que levam mais de uma vida para serem compreendidos. É preciso perceber que a inconsciência tem causado muito desamor e desrespeito à singularidade dos seres.
Existem aqueles que não questionam e permanecem como árvores, ficando onde foram plantados sem fazer muitas perguntas, e existem aqueles que necessitam de coisas diferentes e inexistentes para muitos que vivem ao seu redor. A diversidade é amplamente divulgada, mas pouco respeitada. Há uma confusão de conceitos, uma crença limitante que nos torna incoerentes. Falamos em respeitar a diversidade na mesma frase em que pregamos a igualdade, sem perceber que são antagônicas. São dois conceitos paradoxais. Calma, meus amores! Eu explico, respirem, não enlouqueçam e vamos discernir isso. Lembrem-se de que o discernimento traz clareza e, por sua vez, amor e gratidão. Portanto, não tenham pressa.
A diversidade se opõe à igualdade e vice-versa. Não é possível juntar no mesmo recipiente jiló e doce de leite, e já sabemos que azeite e água não se misturam. Se formos capazes de entender que cada ser é único, seremos mais amáveis no trato com o outro, ao mesmo tempo em que nos sentiremos melhor tendo nosso ‘Eu’ respeitado e amado, sem precisar ser como outra pessoa.
Entretanto, o exercício de amar é outra lenda confusa que temos. Muita gente jura que ama, mas é a primeira a desistir quando se depara com uma situação adversa que não corresponde à sua idealização. Geralmente, não amamos. O que sentimos é uma vontade tremenda de sermos atendidos e voltar para o papai ou para a mamãe e dizer que cumprimos o seu papel de bons cidadãos. Muitas vezes, sem saber, engaiolamos o amor em um pedaço de papel A4. O amor vai além da obrigação de voltar para casa porque há algo assinado. No amor não há obrigação nem coação. Quem ama não é obrigado a ficar. Não é preciso permanecer no sofrimento. Quem ama liberta e sempre se surpreende com a vontade do outro de ficar. Quem não ama prende e tenta agradar, vivendo em sofrimento, angústia e sem saber se o outro está porque quer.
Não se iluda, ainda hoje há quem sustente a lenda de que o amor causa sofrimento. Não! Quem ama não sofre, compreende e fica feliz ao ver o ser amado realizado. O que machuca a alma é o fato de não sermos amados. Isso não tem nada a ver com amar alguém, vai muito além dos contos que romantizam o sofrimento por amor. Os romantismos dos contos de fadas prejudicaram muito os relacionamentos contemporâneos. Somos fruto de uma sociedade que valoriza relacionamentos duradouros, mas isso não é, nem de longe, uma expressão do amor. Muitos desses contos são, na verdade, cumprimento de deveres. É preciso despertar a mente para que ela se abstenha de querer compreender tudo. Se ampliarmos nossa consciência, compreenderemos o amor e suas peculiaridades. Deixemos o sol brilhar
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