“Certa vez ouvi de uma bruxa que nesta vida a gente só tem momentos…”
A vida passa e os encontros não se repetem. Se fôssemos minimamente inteligentes, já teríamos aprendido isso, não é mesmo?
Tudo passa e, depois disso, pensamos que poderíamos ter feito mais e melhor, mas é sempre depois, e às vezes a casa já estará vazia.
Vá! Corra até a rua Paranapanema. A casa dela é a quarta do lado esquerdo de quem está subindo. Ela seguiu rapidamente pela rua Rio Jequitinhonha e, em seguida, virou na rua Rio Paranapanema. Enquanto corria, acenou rapidamente para o pessoal da escola Cecy Cardoso e seguiu em disparada para a casa da tia dela.
Ela tinha pressa! Precisava ouvir, sentir e entender…
Chegou apressada e quase não conseguiu abrir o velho portão enferrujado. Percebeu que algo estava diferente. Embora as couves ainda estivessem belas, o tanque velho e o banquinho do tio ainda estavam por lá.
A menina chamou pela tia, mas não escutou respostas; a casa estava vazia.
O café estava frio na xícara sobre a pia improvisada da cozinha e o silêncio era estarrecedor.
“Tia, tia aa”, disse a menina, mas nada se ouvia. “Por que não estás aqui? Eu só queria ouvir sua voz doce dizendo ‘Deus te abençoe, menina’. Ver seus olhos sempre emocionados, ternos e cheios de lágrimas. Sentir a energia mansa e fraterna que emanava de você…” Pensava desesperada enquanto olhava ao redor. O vento soprou suavemente em sua face, esfriando sua alma, congelando seu coração e confirmando a ausência da amada tia. “Não pode ser verdade, não pode estar realmente vazia”, ela pensava, recusando-se a aceitar a realidade.
Ela insistiu e gritou novamente na casa vazia.
“Tiaa! Eu trouxe o seu livro, eu amei conhecer o senhor Paulo. Vamos conversar? Tia?”
Mas apenas o vento respondeu, soprando suavemente na casa vazia. A porta da cozinha bateu, e ela correu para o quintal, tentando fugir daquele vendaval de emoções. “Eu não posso suportar essa ausência, preciso da sua presença, do seu toque”, pensava enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.
Correu desesperada para o quintal, foi até a oficina de gesso, chutou o balde e esperou ouvir a voz doce do tio Estelbaldo, mas a oficina, assim como a casa, também estava vazia.
“Tio, você também se foi?” O gesso estava sem forma e endurecido sobre a bancada, ainda havia por ali algumas peças do tio, já quebradas. A menina ficou desolada. “O que farei agora? Como seguir em frente sem vocês?”
Saiu porta afora, empurrou o velho portão enferrujado e sentiu novamente o vento no rosto. Desceu a rua Rio Paranapanema devagar.
Ela não correu, caminhou lentamente. De longe se ouvia o seu murmurar, e o choro doído de sua alma causou muita pena.
“Tia, oh tia! Cheguei tarde… A casa estava vazia, tia…”
Amo-te! Eterna tia Vera.
Dan Dronacharya