Uma Crônica da Falta de Empatia

Lá da terra de onde venho, oferecem flores para as mulheres neste dia fatídico que o mundo diz ser o dia das pessoas que menstruam.

Reza a lenda que ajudar é saber atender a quem precisa, mas será que nós, enquanto sociedade, sabemos atender as necessidades dos outros ou ajudamos quando nos convém?


Pois bem…

Esta semana aconteceram alguns episódios muito interessantes e nada agradáveis. Uma das situações foi no supermercado.
Quando sai de casa eu já sabia que não estava bem, mas me armei em mulher maravilha e fui para minha sessão de fisioterapia. Já era quase noite, fazia bastante frio, estava chovendo e eu com uma enxaqueca chata pra caramba.

Chegando lá e enquanto estava na sessão, compartilhei com minha fisioterapeuta meu desconforto. Ela aplicou laser no meu quadril para aliviar a dor no periforme, e então pedi para ser liberada, eu percebi que as náuseas estavam aumentando e eu ainda deveria passar no supermercado antes de vir para casa.

Quando cheguei ao supermercado os enjoos estavam mais intensos e uma cólica estomacal que não eu entendia bem o porquê. Desci do carro e senti minha cabeça zonza, a visão meio embaçada, mas mesmo assim segui para dentro do estabelecimento.

O supermercado estava lotado e logo a Isaurinha disse dentro da minha mente disse, “hum, é hoje que que vais passar mal aqui, quer ver?”

Respirei fundo e fingi que não a ouvi, fiz as compras rapidamente e procurei um caixa com uma fila menor. Pensei em ir para o auto pagamento, mas minha visão estava muito ruim, então permaneci ali e a cada segundo que passava eu piorava.

Eu me sentia tonta, tão pálida quanto a Mortícia Adams e tremendo como uma vara verde…

O senhor que estava à minha frente errou a senha do cartão, trocou de cartão, errou outra vez e naquele momento eu já não sabia o que fazer. Fiquei indecisa, pensei em abandonar a fila, mas respirei fundo e disse a mim mesma “paciência”, fiquei parada e concentrada no mantra de paz interna, sentindo o vômito na garganta, segurei na beirada do balcão, abaixei minha cabeça e usei todos rituais.

Recorri ao diálogo interno e íntimo, praticando todos os exercícios respiratórios que aprendi, nesse momento, notei que a moça do caixa estava me olhando como se eu fosse um fantasma, então levantei minha cabeça levemente e disse a ela que eu estava passando mal, pedi que ela agilizasse, mas ela deu de ombros e voltou ao senhor que não sabia nem o próprio NIF.

A situação estava pior, senti outra vez o vômito na garganta e finalmente chegou a minha vez, passei as compras e quando fui passar o cartão errei o lugar de colocar o chip, no que a atendente rispidamente disse:

Coloca certo desta vez. Pedi desculpas.

Minha cabeça rodava e minha visão estava mais turva. Ela pegou o cartão e colocou na máquina, tirou o cupom e estendeu a mão para entregá-lo a mim. Tentei expressar minha gratidão pelo atendimento, mas fui interrompida pelo vômito, incapaz de contê-lo, vomitei tudo que eu tinha dentro de mim em cima da mesa do caixa, do lado, no chão e em mim.

Eu tentei impedir o jato de vômito levando a minha mão na cara, mas foi em vão, consegui com essa atitude encher a minha cara de vômito e ficar ainda mais constrangida, dura e fria numa crise de Raynauld. Todas as pessoas que ali estavam se assustaram e os gritos começaram:

Que isso? Que horror! Gritou a primeira mulher depois de mim.

Outro no caixa ao lado falou com repugnância:

Ai, que nojo, Jesus!

Chega pra cá, fica longe, sai de perto e, assim continuaram até o estacionamento, não ouvi nenhuma voz me oferecendo ajuda, nenhum braço se estendeu, ninguém quis saber se eu precisava de um médico ou de um papel para limpar o rosto.

Ninguém se compadeceu do meu estado, passei por todos e pedi desculpas a todos, Senti saudades da minha terra, do meu povo amável, carismático e solidário, pensei na mesma hora que ainda temos que renascer muitas vidas para entender o que de fato significa ser SER HUMANO. Fiquei desolada!


Entrei no meu carro e vim para casa, de lá até aqui continuei a passar muito mal e entre uma curva e outra a minha cabeça girava tal qual a uma roda gigante e o meu estômago acompanhava e em meio a isso tudo eu me questionava, onde estamos? Uma pessoa passa mal e a nossa única preocupação é limpar o CHÃO? Fiquei indignada e chorei horrores, não nego!

Ouvi muitos, meu Jesus! Santa mãe! Entretanto, o que vi ali foi muita religião, pouca ou nenhuma retidão.
Destruíram as piras, mas ainda se queimam as bruxas, feliz 8 de Março.

Que os deuses me livrem desta “normose” social.

Agora e por ora, é melhor deixarmos o Sol brilhar, mesmo que seja inverno.
,
Gratidão eu sou por ser diferente. 😉

Doces Primaveras,
Dan Dronacharya.

Sobre Dan

Estudante da consciência, Escritora e Professora de Yoga

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