Vim lhe agradecer, ó grande mestra… Gratidão por tudo que sou!
Quando iniciei meu retorno a casa, ouvi de ti o conselho de que eu deveria ser disciplinada como os oceanos, que recebem as águas dos rios e ainda assim não transbordam; portanto, eu deveria saber conter todas as minhas ondas e não transbordar em cima de ninguém.
Disseste-me que eu deveria olhar para mim e questionar o conceito de perfeição todas as vezes que eu quisesse adjetivar alguém.
Aconselhaste-me carinhosamente a me calar sempre que as minhas palavras pudessem gerar dor e tristeza em quem quer que fosse, agir com disciplina ainda que isso me doesse, portanto eu aprendi a não reagir e hoje já não esmoreço diante das dificuldades da vida.
Mostraste-me inúmeras vezes que eu, assim como todos os seres, também possuo falhas e portanto, falharei repetidamente diante das expectativas alheias, e são essas as ilusões que nos distanciam um dos outros.
Entendi perfeitamente que o meu compromisso é apenas comigo, com a minha consciência, e que o outro ser deve ser ouvido e refletido sem mais envolvimentos.
Afirmo todos os dias para mim mesma que tudo começa e tudo termina, ou tudo se transforma, tudo é impermanente, é como o dia que deixa de ser dia e passa a ser noite, e a noite por sua vez também voltará a ser dia. O sol sairá de cena com o dia para que a lua dê o seu espetáculo, e tudo acontece harmonicamente sem a minha participação.
Prostro-me diante de ti, ó mestra!
Vim para dizer que hoje a minha mente já consegue ter paz, ainda tenho dificuldade, mas já sei deixar ir. Eu entendi que nada me pertence e nada posso mudar. Entretanto, ainda não sei não sentir.
Hoje sei perfeitamente que a tranquilidade é o exercício que pratico, minha doce mestra! Pratico com honra, mas não sem dores! Eu ainda sinto o desconforto de deixar ir, ainda tenho o desejo de possuir e ainda tenho algum apego nas coisas e nas pessoas; entretanto, sinto que a força para lutar contra esses desejos é hoje muito maior do que eles. Hoje já não me permito mais ser de ninguém, não me dou!
O desejo de ser dona de alguém ainda existe, mas já não domina o meu ser, é como vontade de fumar, passa logo! Já não tenho vontade de insistir nem de me fazer merecedora de algo. No entanto, confesso que lá no fundo as vezes sinto bem forte o desejo de ser amada por outro ser sem ser eu (risos).
Será que estou no caminho? Hoje já me aceito… Até acho que me encontrei, sabes? Eu reconheço que sou estressada, insegura, ansiosa, medrosa e pequena. Penso que ao reconhecer essas inabilidades, facilito o meu caminho na direção daquilo que julgo ser melhor para mim. Já não almejo ser perfeita para os outros, tenho uma necessidade imensa de me amar, hoje sou apaixonada por mim! Eu não quero me perder e não permitirei que ninguém me tirem a minha “catinga” de mulher.
Tenho seguido os ensinamentos budistas, mestra e tenho tentado ser um ser cada vez melhor, melhor para mim! Estudar e segui-los tem me ensinado como sair da ilusão do perfeito, com isso tenho obtido muitos benefícios. Atualmente, eu já abstenho-me de discussões e de dar opiniões, já não participo de debates infrutíferos e dualistas.
O Buda disse sabiamente que “nós somos o que pensamos, falamos e fazemos”. Ele disse que não existe um agente separado de ti. Ensinou-me a autorresponsabilidade e, portanto, ficou claro para mim que “Nós somos as escolhas que fazemos”, e cabe a nós sermos seres melhores.
“Ser um ser melhorado e diferente do comum, ele não corrige os outros, ele corrige a si mesmo.”
Mas, mestra…
Embora eu já tenha colhido tudo isso, eu ainda sinto todos os dias aquelas ondas turbulentas dentro de mim tenho uma vontade tremenda de mandar tudo ao ar.
Eu ainda sinto impaciência em esperar, em ouvir e em atender, eu ainda tenho pressa. Portanto, minha amada mestra, a tranquilidade que externamente apresento é de fato apenas um exercício que pratico e por mais que eu tente não ver, ainda tenho medo de ter aqueles maremotos.
Eu sei, hoje sou totalmente consciente de que o outro não existe, e que devo olhar para o meu interior todas as vezes que eu sentir a vontade de julgar qualquer ser, coisa ou sentimento.
Eu sei que devo ser espelho e ver sem sentir. Sendo espelho, aprendo a amar, não é mesmo? Quem ama não molda o ser amado, apenas aceita! É como o espelho, apenas REFLETE.
Mestra, o amor é uma lenda?
Tu podes ensinar-me a amar?
Eu não acho que sei o que é isso, eu acredito que amar é, portanto um exercício mais difícil de ser executado, pois não? Quem ama solta, liberta e não maltrata, não é mesmo?
Então, vejamos…
Se preciso prender alguém em uma gaiola, não amo!
Se tenho que moldar para meu bel prazer, não amo!
Se sofro porque ele voou, não amo! (a dor é a força do apego na carne).
Se coloco o ser amado acima de mim, não amo! Sem possuir amor próprio, não posso ser amor com os outros.
Se tenho medo, não amo!
Se minto, não amo!
Se aprisiono, não amo!
Se canso, não amo!
Como posso amar e sentir que sou amada?
Portanto, entretanto, e por enquanto, eu penso que amar é o nível “hell” deste joguinho, e ainda estou no nível “easy.”
Não é fácil passar de nível, a gente acaba fazendo vários tipos de trapaças para alcançarmos um nível mais alto, e assim tropeçamos nas próprias pernas e enganamos apenas a nós mesmos com essas pequenices e acabamos por não conseguir progredir.
Bradamos vitórias forjadas e falamos sobre prêmios inexistentes porque não suportamos o vazio que somos. Nós não nos aceitamos e, portanto e por enquanto o amor estará longe de ser e de estar.
Ó mestra!
A senhora sabe,
Eu já enviei flores para mim mesma e já inventei um monte de personagens. Já criei inúmeros cenários, só para ver se alguém, inclusive eu, fosse capaz de me amar.
Eu já desejei tanto outra pessoa que agora me sinto sozinha quando busco a mim mesma e me arrependo tanto de ter me abandonado.
E embora eu tenha conseguido conter as ondas turbulentas que tanto me orientaste, posso dizer que não respondo aos insultos que me fazem, mas que os sinto. No entanto, eu não queria senti-los.
As dores são mesmo inevitáveis, ó mestra!
Dói a alma quando tentamos agradar alguém e somos silenciadas, e às vezes até desacatadas.
Dói ser adjetivada e a dor é mais intensa quando o adjetivo vem da boca de quem queremos por perto.
E embora eu saiba que tudo isso são expectativas, eu ainda não consigo deixar despercebido, amor é de certeza o exercício mais difícil de ser executado, ó mestra, é sim!
Conter a intensidade das ondas bravas é relativamente fácil.
Reconhecer os seus erros é fácil.
Também não acho difícil ficar de ponta-cabeça.
Entretanto, amar tem sido difícil.
Penso que a dificuldade em amar está relacionada a não gostar e enquanto não conseguirmos fazer essa dicotomia não saberemos amar. Amar não é gostar, é aceitar e soltar!
Mas, como posso ficar feliz em ver quem desejo partir, não é mesmo?
Como posso me satisfazer com a felicidade, mesmo quando eu não sou parte integrante dela? Como me contentar com isso?
Amar é saber responder essas perguntas
Eu ainda estou morta, não consigo! Espero renascer qualquer dia.
Assim,
Deixemos o Sol adentrar e brilhar… Que o pranava OM nos guie diariamente.
Com gratidão,
Dan Dronacharya.
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