O Mar das Decepções

“O Tempo Fechou durante a Travessia da Desilusão.”   
Ui!…
O dia está cinzento na margem norte da vila das fadas, as nuvens estão inquietas e carregadas de chuva e o mar por sua vez não está nada diferente, acontece que eu (a fadinha sem nome) preciso atravessá-lo e chegar dou outro lado da margem sem demora para cobrir o evento do centro filosófico da vila. 
Insegura, sem saber nadar, com medo e sem rumo certo decidi me sentar na praia, fiquei por ali olhando e mar e pensando no que realmente me prende deste lado? Qual é o meu medo? Por que me recuso a nadar neste mar?  
Senti um beliscão na minha perna e vi que era as conchinhas Engraçadinhas, começamos a falar sobre as coisas que se passam no mundo da magia, fiquei a conversar com as conchinhas e os grãos de areias. 
Sei que dor estava estampada em minha face que já não é assim tão bonita, mas parece que minha a minha aparência bisonha está pior do que eu imaginava, a turminha que estava por ali comentavam sem parar… Uma das engraçadinhas chegou mais perto afirmou que minha cara estava mais feia do caranguejo depois de bater nas pedras, disse-me que cara feia e pensamento negativo não acalmam as ondas, enfurecem-nas, por isso é melhor aceitar e relaxar. Ficamos horas em silencio, eu a girar um graveto no vento e ela tentando se equilibrar numa das suas três pontas, ela rompeu o silêncio, perguntou-me: 
 Por que te chamam de Sem Nome? 
 
Bem, este foi o nome que me deram quando eu brotei, dizem que eu tinha um nome quando vivi, mas desde que morri é assim que chamam.  Ela não ficou satisfeita e exibindo seu equilíbrio, insistiu 
Mas, tu nunca quiseste saber sobre o teu nome? Insistiu ela toda garbosa de teu equilíbrio 
Estás a falar da minha última morte? Então, não, desta última vez, não!  Eu não quis e não quero revirar o baú das vivências dolorosas que passei. E como se estivesse a monologar, ela continuou;  
A decepção, minha cara conchinha é uma coisa que mata lenta e dolorosamente, dentre todas as mortes afirmo-te que a morte mais doida é a da decepção, porque ela te pega despreparado, ela é aquela que vem de dentro, por isso causa tanta dor, sabe? Até parece que os são de fora tem licença para matar-nos, mas não é nada disso, não! Normalmente, é para os de fora nós temos espadas, escudos, bombas de efeito energético, moral e mortal, é para os estranhos temos flechas de veneno, poções e maldições. 
Entretanto, não é suposto que tenhamos que nos proteger dos de dentro não deveríamos ter aversões e desconfianças daqueles que estão do nosso lado, era suposto que quando estivéssemos em casa poderíamos estar desarmados porque é onde somos amados. 
É por isso que a pancada é mais doida quando vem de dentro, parece que a pessoa que sabe das tuas dores, e, portanto, sabe como te ferir, estivesse, por isso proibida de te matar, parece que qualquer um pode fazer isso, mas quem te ama não pode te matar, ou pelo menos não poderia, não poderia, não!…  Eu morri muitas vezes e nunca tive coragem de entrar neste mar.  
O silêncio reinou entre nós e quando eu a procurei e a conchinha engraçadinha já estava entre os grãos de areia.  
Murmurei baixinho que só queria ficar morta em paz, curvei minha cabeça e procurei mais silencio. Deitei sobre a areia quente e fechei meus olhos. 
Uma voz vinha ao meu encontro junto das ondas do mar, era suave como mel de laranjeira, cativante e envolvente como lareira quente no inverno frio, eu me arrepiei toda por imaginar que poderia ser a poderosa Caríbdis (a bruxa do mar). 
Tentei abrir os olhos e não consegui, tentei sentar e falhei, tentei sair dali, mas os grãos de areia prenderam-me como se fossem areias movediça, procurei a conchinha e não achei ninguém.  
Ela, que não sei quem é, disse; 
A decepção é de certeza o pior tipo de dor que poderemos sentir, isso porque ela sempre vem daquilo que julgávamos conhecer e nunca anda só, ela está sempre acompanhada de demónios e de seres traiçoeiros. 
Há quem diga que a decepção só pega tolos e há quem afirme que elas os despertam, entretanto pelo sim ou pelo não é melhor continuar com a dona Prudência, é ela que nos guia de volta, alertando-nos que essas sombras são passageiras, e que, no fundo, tolice de verdade é tentar evitá-las. Porque se a decepção pegasse apenas os tolos, então, acredito que todos fomos e somos tolos em algum momento da vida. 
Ok,  
Você pode dizer que nunca se decepcionou e bla- bla- bla. Mas nem precisa desperdiçar energia com isso meu caro, guarda no bolso este seu recurso “secundárista” pra aplicar em alguém que seja mais tolo do que você, veja se isso ainda cola ou se é só coisa de otário. 
Saiba que é mais fácil e decente assumir que sim! Infelizmente, nós fomos educados para sermos tolos. Então, se o seu sistema cognitivo estiver funcionando bem, é obvio que você aprenderá a ser mais um em meio a multidão de tolos que todos somos, e contará os dias pra chegar a sua vez de decepcionar e de ser decepcionado. 
Eu espero sinceramente, que nenhum ser do reino dos iluminados, sempre certos e nunca despertos venha me tirar de tempo, afirmando ter nascido mais puro do que os outros.  Eu não estou pra isso, bebê! Faz anos que meu caldeirão de ilusões rachou e eu o restaurei pra nunca mais permitir novos trincados, portanto, já não consigo alimentar o fogo da ingénua esperança, só resta fumaça. 
Entretanto, mesmo com tudo isso, eu sou a única bruxa de toda vila das e de todas as 89 constelações que pode lhe ensinar como nadar no vasto e temível mar das decepções, isso pelo simples fato de que eu nunca consegui sair daqui.  
Conheço tudo deste lugar, conheço todos os segredos, saiba que eu posso e sei sair, mas não consigo deixar a amargura, então para que eu possa me redimir com a minha própria essência, eu há milhares de anos ensino multidões a nadar e a vencer este mar de decepções. Nunca fiz nada por ninguém, sempre foi por mim, fui eu quem me traiu e isso não ocorrerá outra vez, 
Deixa de prosa; 
Vamos adiante, é melhor que preste atenção no instante, mantenha a mente perto, não deixe –a ir tão distante.  para que consigamos prosseguir em segurança e para que não sintamos muita dor, peço que acalme enquanto estivermos em seu interior. 
 Não solte a mão da dona Prudência, tente manter os olhos voltados para dentro, é inútil tentar contar corvos na escuridão, se nos perdermos em pensamentos sombrios sobre as decepções poderemos abrir feridas ainda mais profundas, portanto, permita que a tua essência nos guie para não entoarmos cantos que nos prendam em desencanto. Porque, no fim, aprender a lidar com a decepção é aprender a cantar a canção certa, na hora certa, sem deixar que a escuridão nos cegue. 
Algumas coisas a gente aprendem da forma mais dorida,  
Só quem um dia decepcionou, ficou decepcionado por decepcionar ou se permitiu ser decepcionado sabe que a honestidade e a confiança não nascem no mato e nem se vende no mercado. 
Ei, anda logo “maluquete”, tu tens que cobrir o evento…. 
Ué, que engraçado, eu estou do outro lado. 
Por ora é melhor deixemos o Sol brilhar, mesmo que seja inverno dentro de si. 
Gratidão; 
Dan Dronacharya.

Sobre Dan

Estudante da consciência, Escritora e Professora de Yoga

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