Consideração, tolerância e generosidade

Uma reflexão profunda sobre como valorizar as conexões humanas

Olá,
Existe coisa mais deselegante do que a falta de consideração? Eu desconheço! Considerar alguém é mais do que uma atitude de boa educação, do que ser apenas bondoso e não, não mesmo! Consideração não tem nada a ver com o exercício simplista de ter que tolerar alguém ou alguma coisa. Sim, é certo que por considerar muito alguém, também toleramos alguns excessos da personalidade do amado(a). É mesmo verdade que a gente acaba por passar o pano e muitas vezes finge não ver que o ser amado tem defeitos. É, isso faz parte da perfeita imperfeição de apenas ser você.
Nós toleramos a indisposição, seja ela física, emocional, mental, energética ou espiritual, a gente consegue tolerar os chefes mal-amados e indispostos, os parentes chatos, os vizinhos inconsequentes e barulhentos e toleramos até aquela gente que consideramos sem classe alguma, não é mesmo?
Sim! Nós toleramos as coisas ruins ou menos boas por educação ou por consideração, entretanto a recíproca aqui não é verdadeira. Ninguém passa a ter consideração por tolerância, não é mesmo?
A Consideração é um artigo luxuoso na lojinha da vida do ser humano e não se encontra para comprar no mercado como se encontra pão, vinhos e sabão.
Nós consideramos aqueles seres que amamos, as pessoas que nos engrandecem, os amigos que nos enobrecem e nos deixam cada vez mais humanos.
Consideramos as pessoas que são luz, todas aquelas que nos ascendem por ter muita consideração não queremos causar decepção. Preocupamo-nos com os seus aborrecimentos e toleramos muita coisa em prol da felicidade daqueles que amamos e queremos bem.
Também consideramos os bons negócios, o sucesso de um novo projeto e as energias que queremos por perto.
Assim, por consideração, agimos sem pretensão, não necessariamente precisa ter uma troca e nem se quer um eu te amo de volta, nada! Nada além de algumas beijocas nas costas. Considerar é uma atitude totalmente desprendida da idealização de pertencer ou receber.
Por exemplo, enquanto filhos, consideramos a felicidade de nossos pais, sem que nossos pais tenham que fazer algo, esta não é uma questão moral, este ato está além, muito além dessas normas sociais. Penso que ninguém se entedia, ou pelo menos ninguém deveria se irritar ao ver a realização dos pais, e aqui a recíproca é verdadeira.
Por amar incondicionalmente os nossos filhos, nós os consideramos tanto que independente das escolhas que fazem, toleraremos! Por amor, toleramos os nossos filhos, nós poderemos reprovar alguma atitude, mas ainda assim, toleramos e não desconsideraremos os nossos filhotes.
O pai não se cansa dos filhos e nem fica a contar as horas para que eles sumam. Não! Quem conta as horas para que tudo acabe não tem consideração, de certeza que não teve um momento “baum”, ela apenas suportou ou tolerou!
Quem age com tolerância, torce para que o tempo voe e seja irrepetível.
Portanto, por amor consideramos nossos filhos e independentemente das escolhas que fazem, toleramos as falhas no caminho.
Inabaláveis na arte de amar, ensinaremos infinitamente as melhores formas e não desejaremos o fim, nenhuma mãe que ama tem pressa ou deseja que o seu tempo passe e por mais que um filho cresça, a mãe fica presa. É um amor que fica a ser considerado, até depois do seu próprio fim, penso eu.
Portanto, aquele que fica a contar as horas para que tudo acabe não pode ser considerado como quem age com amor e consideração.
Ninguém considera quem se odeia, nem podemos ter tal nobreza com o mal humor, a falta de educação, as piadas sem graça, os preconceitos e a falta de amor. Nós as toleramos e fazemos isso porque sabemos das nossas limitações, entretanto isso é diferente de considerar, é apenas relacionar-se.
A consideração vem do coração e a tolerância pode vir da educação ou da falta dela.
A confusão se estende ao conceito de generosidade que muitas vezes é tida como um ato de amor…. Entretanto, a generosidade não é um a ato de amor, é a atitude honrosa da pessoa que age com a disciplina e a decência de uma pessoa que ama, mesmo sem amar.
Portanto a pessoa generosa pode até não amar, mas ainda sim agirá como alguém que ama, por honra, por respeito e por ser direito.
A maior consideração deve ser consigo mesmo, devo amar-me e aceitar-me completamente, respeitar a minha essência e não desejar ser outro alguém além do que já sou.
Ter paciência comigo e entender que a minha visão não deve sobrepor a de ninguém. Amar sem requisitar e sem querer conquistar, quero considerar ou pelo menos tolerar aquilo que não posso mudar.
Daí, quando tudo passar, quando tudo desaparecer, caminharei segura e irei para além das montanhas alaranjadas nos entardeceres de outono, sem rumo e sem dono. Despertada das amarras que eu mesma tracei, caminharei livremente e incansavelmente todos os dias e ainda que a estrutura trema e todo o meu ser estremeça eu irei sem esmorecer, viver plenamente, e novamente experienciar a vida e no meu último suspiro eu quero apenas ser, sentir-me a mim e a si. Eu vejo você!
Que o Sol brilhe intensamente mesmo que o inverno esteja a caminho.
Gratidão,
DAN DRONACHARYA
Texto capa da Meer no mês de julho
Acessem a revista: https://www.meer.com/pt/authors/1333-dan-dronacharya

Sobre Dan

Estudante da consciência, Escritora e Professora de Yoga

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